As tatuagens orientais são muito populares no nosso mundinho ocidental, mas, afinal, qual é a sua origem?

Ao pensar em grandes desenhos e fechamentos de desenhos orientais, imediatamente associamos à Yakuza, temida máfia japonesa. Para se ostentar uma tatuagem, é preciso suportar a exposição à dor. Logo, o processo de “fechar o corpo” com tinta leva anos para se completar.

A prática do fechamento de grandes pedaços de pele remonta a um dos grupos que, acredita-se, deu origem à própria Yakuza: o Bakuto. Jogadores itinerantes no período do Japão feudal (por volta do século XVIII), os Bakuto eram foras da lei que viajavam pelos feudos ganhando dinheiro com jogos de azar tradicionais, como hanafuda (jogo japonês de cartas) e dados. Eventualmente, durante a era Edo (em que o Japão foi governado pelos shoguns da família Tokugawa), os Bakuto eram contratados pelo governo para entreter os trabalhadores dos feudos – os jogadores podiam ficar com o dinheiro dos trabalhadores, desde que pagassem uma porcentagem ao governo.

Os apostadores fechavam os braços e peito com tatuagens elaboradas que escondiam os códigos reveladores de seus crimes e número de condenações.

Na medida em que os apostadores se organizavam e ampliavam seus negócios, envolvendo-se com agiotagem, cobrança de proteção, tráfico de drogas, casas de prostituição, entre outros, iam aparecendo as famílias da Yakuza. Os tatuadores acabavam também se associando a alguma família criminosa e até hoje são, eles mesmos, responsáveis pela escolha dos desenhos a serem feitos em cada indivíduo – que levará ainda a assinatura do artista. Para elaborar a “segunda pele”, chamada, no Japão, de irezumi, é preciso que o tatuador conheça bem o cliente: além dos valores da organização, as imagens refletem também a personalidade e as crenças de cada um, de acordo com sua história pessoal.

 

Os desenhos mais comuns são os dragões, que oferecem proteção a quem os carrega, além de serem considerados símbolos da masculinidade. Surgidos de mitos chineses, significam também longevidade e prosperidade, sendo que cada dragão tem nove crias, cada uma com uma personalidade específica: “a imprudência é a característica do dragão Haoxian; Yazi é belicoso e valente, por vezes sua imagem é empregada em armas; Bixi não gosta de ficar só; Quiniu, grande apreciador de melodias, muitas vezes grafados em instrumentos musicais, sobretudo os de cordas; Chiwen, sempre a olhar para o horizonte; Suanmi gosta muito de fogo, por isto, pode ser visto em queimadores de incensos; Pulao aprecia um bom rugido e faz parte da decoração de sinos; Jiaotu, sempre enrolado em seu corpo, muitas vezes é usado em portas. Mesmo benevolente, o dragão enfurecido pode causar catástrofes naturais e eclipse

* texto retirado do Portal Tattoo.

Acredita-se que algumas carpas, ao nadarem em direção à fonte do Rio Amarelo (Huang Ho), precisam subir a queda d’água de Longman Falls, ou Portão do Dragão, e é ali que se transformam em dragões.

Cada fechamento deve ser visualmente balanceado, e as imagens sempre devem aparecer em pares. O tigre, símbolo do perfeccionismo, da força e da coragem, frequentemente aparece como o par do dragão.

A tatuagem da carpa, feita em direção ascendente, significa força para alcançar os objetivos; descendente, indica que os objetivos foram alcançados. Os desenhos de folhas que aparecem ao redor de carpas e dragões revelam o caminho ao céu que esses seres têm de seguir.

Os samurais representam disciplina, dedicação e lealdade. Flores de cerejeira são comumente associadas à efemeridade da vida; os crisântemos são símbolos da beleza, simplicidade e perfeição. A flor de lótus, perfumada e bela que nasce da lama, representa a evolução da alma; as peônias indicam honra, riqueza e distinção.

 

Ainda fazem parte das composições das tatuagens lendários personagens do teatro e de mitos japoneses.

As cores mais utilizadas são os tons de preto (sumi-e) e vermelho (resultante de uma mistura bastante tóxica). Para preencher os grandes espaços de pele, usa-se um método chamado tebori ( “gravar com as mãos”), que exige força e continuidade para uma aplicação uniforme. O instrumento é feito da união de várias agulhas amarradas e colocada num suporte de metal ou, mais comumente, de madeira. O processo é considerado mais doloroso que o da tatuagem feita à máquina não só porque leva mais tempo, mas também pelo impacto das agulhas na pele.

 

Quanto à assinatura do tatuador, quanto mais respeitado e antigo é o artista, maior é a placa que leva seu nome. Um tatuador muito respeitado cobra também muito caro, e conseguir uma tatuagem daquele é um símbolo de status entre os membros das organizações.

Para conhecer mais:

 

Em trecho do livro “Lua De Yakuza, A”, a ex-gângster Shoko Tendo conta a história por trás de sua segunda pele e o motivo de tê-la feito. A escritora aparece ao lado de outros membros e ex-membros da organização num episódio da série “Corpos Marcados”, exibido pelo The History Channel, intitulado “Morte da Yakuza”.

Original por Francine Oliveira no finado Tattoo Tatuagem

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