Os Li são uma das 55 minorias étnicas reconhecidas na China. Juntamente com os Miao, um total de 1,3 milhão de pessoas habitam as áreas montanhosas ao centro-sul da ilha de Hainan, tendo sido levados para lá por imigrantes Han, que os retiraram de suas vilas, tradicionalmente alocadas na costa da ilha, no século XV. Acredita-se que eles foram para Hainan, ao sul da China, há mais de 2 ou 3 mil anos. Considerado pelos chineses um lugar remoto e às vezes mais misterioso que a Mongólia ou o Tibet, a região foi então apelidada de “A Cauda do Dragão”, um local selvagem no fim do mundo chinês.

Com o estabelecimento do governo comunista no país em 1949, ideologicamente ateu, foram iniciadas as políticas de erradicação das superstições e de mudança dos costumes prevalentes e das tradições sociais, para que todo o território se tornasse o mais uniforme possível. Rapidamente, as crenças animistas do povo Li entraram em colapso, juntamente com sua economia baseada no plantio do arroz.

No entanto, a terra sempre foi a responsável por manter os Li juntos, carregando consigo o divino, o mítico e o ritual, num complexo sistema de crenças. O caráter de suas experiências de vida, em termos físicos e psicológicos, continuou a destacar-se pela coletividade inerente, tudo testemunhado pelo ambiente que os cercavam. Dessa forma, muitas de suas práticas relacionadas às crenças foram mantidas, por seu forte caráter metafísico, sendo uma delas a tatuagem, vista como o elemento a guiar os indivíduos após a morte.

Como animistas, os Li eram guiados espiritualmente por xamãs que, por meio de sua capacidade de se comunicar com espíritos, deidades e ancestrais, funcionavam como mediadores entre o mundo físico e o sobrenatural.

A cultura Li e a sua cosmologia estavam incorporadas nos indivíduos por meio de tradições musicais, mas encontrava-se também inscrita na pele, por meio das tatuagens. Todos os cinco grupos pertencentes à etnia Li se tatuavam e a prática ocorria principalmente entre as mulheres. Homens costumavam se tatuar apenas com três linhas ao redor do pulso, com propósito medicinal. Entre as mulheres, os desenhos se diferenciavam não apenas de uma tribo para outra, mas também entre as famílias.

Curiosidade: os Li estão entre os primeiros chineses a desenvolver a tecnologia para a tecelagem, sendo até hoje conhecidos por seus belos tecidos coloridos. As mulheres Li são famosas por sua habilidade com a tecelagem e a costura da seda. Cada grupo desenvolve padrões específicos para seus tecidos e, por meio dos desenhos, é possível saber a qual vila e a qual classe social a mulher pertence. O mesmo ocorre com as tatuagens, que são indicadores sociais e de identidade de cada Li.

Na tribo Basadung, a garota começa a ser tatuada quando completa 13 ou 14 anos. Uma mulher mais velha, não necessariamente aparentada, primeiro a tatua na parte de trás do pescoço e, depois, no rosto e garganta, no decorrer de quatro ou cinco dias. Pelos próximos três anos, seus braços e pernas também são tatuados. Caso alguém da família morra no curso destes anos, o processo é interrompido.

A marcação dos desenhos na pele é feita com tinta-da-china (também conhecida como nanquim); um espinho de planta é usado para perfurar a pele e depois uma mistura de fuligem e água (uma forma mais primária do próprio nanquim) é esfregada nas feridas.

A tribo Meifu basicamente aderiu à mesma prática dos Basadung. As outras tribos também se utilizam das mesmas técnicas, mas criaram um desenho diferente, que começa no queixo e se estende pelo pescoço em dois pares de linhas. As linhas continuam pelo tronco, atravessando o peito e descendo até um círculo feito no umbigo.

Fazer tatuagens significa que uma mulher já pode ser escolhida para se casar, e o ritual da tatuagem era acompanhado por uma cerimônia elaborada, no centro da vila, para celebrar a puberdade da garota. Entrevistadas nos anos 1930 para uma matéria publicada na revista National Geographic, as mulheres contaram que as tatuagens não apenas as deixavam mais bonitas, mas também permitiam que fossem reconhecidas por seus ancestrais após a morte.

Atualmente, a prática está desaparecendo, e as tatuagens só são encontradas em mulheres mais velhas. A ilha Hainan deixou de ser a misteriosa “Cauda do Dragão” para se tornar um ponto turístico. A região das montanhas onde vivem os Li e os Miao recebem milhares de visitantes ao longo do ano, sendo o turismo agora extremamente importante para a economia do lugar, juntamente com sua milenar tecelagem.

Fontes:

  • Artigo por Francine Oliveira no finado Tattoo Tatuagem
  • http://www.vanishingtattoo.com/hainan_island_tattoos.htm

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